Consequência directa do fenómeno da globalização, associado aos mais recentes fluxos migratórios, provenientes, em particular, de territórios em conflito, Portugal registou ao largo dos últimos anos um aumento acentuado na entrada de cidadãos oriundos de países muçulmanos, o que, na presença de variadíssimos sinais, tem vindo a criar um ambiente de hostilização por parte de alguns sectores da sociedade, frequentemente a reboque de uma retórica de rejeição da figura do “outro”, do “intruso”, veiculada por parte de alguma Comunicação Social de matriz sensacionalista, com recurso recorrente do termo islamofobia.
Para o aprofundamento deste sentimento, contribui, igualmente, o discurso de líderes de grupos e sectores políticos de orientação radical. Ainda assim estudos recentes mostram que Portugal ocupa uma posição cimeira no domínio das boas práticas de acolhimento de quem procura o nosso país em busca de uma vida melhor. Isto, contudo, não põe Portugal ao abrigo dos riscos que estão associados a uma eventual infiltração de elementos ligados ao radicalismo violento. Em resultado de todas estas movimentações populacionais, sobretudo para o ocidente europeu, começa a desenhar-se um cenário, ainda que, de momento, ténue, de uma reconfiguração das sociedades ocidentais. Também Portugal, como uma comunidade muçulmana tradicionalmente integrada, passou a ser mais um exemplo deste novo figurino.
Artigo de opinião do Doutor João Henriques, publicado no jornal i, a 19 de agosto de 2021