Primavera árabe – um verão que tarda a chegar

Dez anos passaram já sobre o dia em que, na cidade tunisina Sidi Bouzid, o cidadão Mohamed Bouazizi se emulou pelo fogo, numa manifestação, alegadamente de revolta contra a grave situação social e económica do seu país. O dia 17 de Dezembro de 2010 assinalaria, assim, o início de uma massiva contestação popular que se alargaria a todo o território tunisino. Estavam, deste modo, lançadas as sementes de um movimento que marcaria profundamente parte das sociedades árabes, e que passaria a ser conhecido como a Primavera Árabe[1], numa alusão histórica à Primavera de Praga. No caso da Tunísia, provavelmente o exemplo mais significativo, este movimento viria a resultar na deposição, após 24 anos de poder, de um líder autocrático, Zine al-Abidine Ben Ali, a par de reformas constitucionais que passariam a reflectir um novo modelo democrático para o país. Volvidos todos estes anos, e face ao registo de múltiplos sinais contraditórios relativamente aos seus efeitos práticos, coloca-se, inevitavelmente, a questão: sob o ponto de vista social e económico, o que mudou, de facto, na vida daquelas sociedades?

Artigo de opinião do Doutor João Henriques, publicado no jornal i, a 27 de Janeiro de 2021