Não é fácil analisar, num traço, o impacto económico da pandemia COVID 19 no Mundo Islâmico, uma vez que o mesmo abrange realidades diversas que dificilmente poderão deixar de levar a abordagens conducentes a generalizações susceptíveis de serem consideradas redutoras.
Todavia, afigura-se possível, com as devidas cautelas, produzir algumas conclusões merecedoras de reflexão por todos aqueles que pretendam contribuir com soluções para o futuro próximo do que se convencionou designar de Mundo Árabe.
A COVID 19 revelou até que ponto muitas das infra-estruturas sanitárias estavam deterioradas na maioria dos países árabes.
Apesar de terem surgido iniciativas criativas de solidariedade popular contra a epidemia, conforme referido pelo conhecido jornalista tunisino Mohamed Rami Abdelmoula, é preciso ter presente que diversos são os países árabes que vivem em estado de guerra ou de grande debilidade estrutural, provocada pela ausência de um Estado Central ou, ainda, por movimentos de contestação político-social ou de ocupação por forças beligerantes (v g, Síria, Iémen, Líbia, Somália, Iraque e Líbano).
Em termos de IDH e de PIBpc, muitos dos países árabes apresentam uma classificação baixa, sendo certo que, em alguns casos, se registam taxas de desemprego entre os 9 e os 26%, de acordo com o Banco Mundial e que a economia informal chega a representar mais do que 40% da população activa.
Mesmo os países árabes mais ricos apresentam, em regra, menos de 3 camas de hospital por 1000 habitantes, quando a França tem seis e o Japão 13. E quanto ao número de médicos por 1000 habitantes, importa assinalar que o mesmo oscila entre os 0,3 e os 2,5 nos países árabes contra 3,4 em França.
Tal permite ter uma ideia da situação frágil existente na generalidade dos países árabes.
Mas, para além de produzir um impacto devastador em termos sanitários, a pandemia está a causar uma grande turbulência económica em muitos países árabes, gerando diversos “choques simultâneos”, tais como a queda da procura, perturbações ao nível da produção, diminuição significativa da confiança dos consumidores e uma tendência para a contracção do crédito concedido pela Banca (dada a evolução no sentido de um maior rigor na análise de risco de crédito).
Por outro lado, a evolução dos preços do petróleo não se tem apresentado favorável, o que tem afectado várias economias árabes que optaram por modelos de especialização primária “a la Hollis Chenery” (muito dependentes da extracção de combustíveis fósseis).
Julgo que dificilmente será possível evitar em diversos países árabes do Médio Oriente e do Continente Africano o recurso a financiamento externo, eventualmente com o apoio do FMI, da UE e dos EUA, procurando-se adoptar uma perspectiva integrada e integradora, de acordo, nomeadamente, com uma abordagem CDF – Comprehensive Development Framework – adaptada às especificidades sócio-culturais e políticas dos países da região.
António Rebelo de Sousa,