A pandemia COVID-19 veio revelar novos problemas e agravar outros que se encontravam um pouco adormecidos. A crise energética é aquele que mais tem tido impacto na vida das populações, demonstrando-se através do aumento dos preços da energia e dos combustíveis um pouco por toda a Europa.
O ano de 2020 veio mudar completamente as nossas vidas, confinando grande parte da população mundial. Esta realidade teve uma grande influência no mercado petrolífero. A queda repentina da procura fez com que o valor do barril caísse para números incrivelmente baixos. Os grandes produtores mundiais, onde se destaca a OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo, tiveram que diminuir a sua produção para fazer face a esta diminuição exponencial da procura.
Com a chegada da vacinação e com o reabrir das economias mundiais, a vida voltou a um estado de possível normalidade. A expetativa dos mercados energéticos era que a produção diária destes produtores petrolíferos fosse acompanhar essa tendência. Tal não se registou o que resultou no aumento exponencial dos valores energéticos. Este “não” dos produtores teve impactos imediatos, principalmente no valor dos combustíveis que aumentaram para valores recorde.
“Esta redução na entrega de petróleo ao mercado poderia provocar alguma escassez periódica e, consequentemente, gerar uma alta nos preços e uma maior volatilidade” afirma José Caleia Rodrigues, especialista em geopolítica energética.
Este facto ocorre em parte devido aos próprios países que hoje se veem dependentes desta organização. A diminuição da quota de mercado dos países ocidentais e a transição destes para as energias renováveis fez com que a OPEP recuperasse alguma da preponderância que deteve no passado.
Caleia Rodrigues corrobora este fenómeno ao referir que a “Europa Central e Ocidental se encontra fortemente dependente do petróleo externo, importado de várias regiões em que se encontre disponível”. Impõe-se, portanto, a pergunta: como ficou a Europa tão dependente do petróleo externo?
As alterações climáticas levaram as potências ocidentais a pensarem num mundo para além dos combustíveis fósseis. À medida que investimentos eram feitos nas energias renováveis e se desinvestia nas energias fósseis, foi-se aumentando a quota de mercado de produtores secundários como a OPEP. O problema reside na necessidade que as potências ocidentais, sobretudo as europeias, ainda têm de um abastecimento contínuo de combustíveis fósseis para conseguirem manter os preços energéticos a baixo preço. A OPEP serve de garante dessa continuidade, mas torna o ocidente refém das suas políticas de maximização de lucros e aumento contínuo do preços dos barris de petróleo, que têm atingindo máximos históricos.
Uma vulnerabilidade com um futuro comprometido
“Esta situação poderia ampliar o poder dos petroestados, aumentando receitas e uma maior influência à OPEP, cujos membros, incluindo a Arábia Saudita, controlam a maior parte da capacidade disponível no sector produtivo do petróleo e podem aumentar ou diminuir rapidamente a produção global”, afirma Caleia Rodrigues. “Esta situação de vulnerabilidade é particularmente visível quando ocorre uma crise no sistema internacional, como é exemplo as consequências que a crise pandémica provocou no mercado energético”.
No entanto, o futuro não se configura risonho para a organização dos países exportadores de petróleo. Com o aumento do investimento nas energias renováveis e a aposta na diversificação de fontes energéticas, um futuro onde o petróleo seja rei não é um dado adquirido. Esta é uma outra razão que explica as medidas atuais de maximização de lucros, numa tentativa de compensar futuras perdas. “Ao ser possível encontrar recursos em novas regiões, em quantidades suficientes para abastecer o mercado de forma continuada, o poder dos produtores tradicionais reduz-se”, antevê o especialista em geopolítica energética, explicando que “o poder da organização irá reduzir nas próximas décadas”.
Instabilidade que prejudica as comunidades
Apesar de esta dependência ter tendência a diminuir, não o será certamente num futuro a curto prazo. Segundo Caleia Rodrigues, “enquanto a diversificação energética não se torna rentável o suficiente para ser comercializada a baixo custo, quem sofre são as populações”.
“A grande volatilidade e instabilidade do setor torna a vida financeira da maioria da população mais imprevisível. Pioram assim as condições de vida”, conclui.