Marrocos é como uma árvore: tem raízes profundamente africanas e as folhas respiram o ar europeu. Com esta imagem, o Embaixador de Marrocos em Lisboa, Othmane Bahnini, ilustrou de forma clara o posicionamento do seu país. Um país africano, a paredes-meias com a Europa, com uma forte ligação ao Atlântico e aos Estados Unidos, mas também no cruzamento que leva ao Médio Oriente.
“A interação de Marrocos com o seu ambiente global” foi precisamente o tema escolhido pelo Embaixador Othmane Bahnini naquele que foi o primeiro de um ciclo de Almoços-Conferência organizado pelo Observatório do Mundo Islâmico. Este ciclo contará com a participação de representantes diplomáticos de países islâmicos, sendo uma oportunidade única para debater o posicionamento, os desafios e o caminho que está a ser seguido por cada um destes países.
Quanto a Marrocos, o Embaixador Othmane Bahnini foi claro quanto ao posicionamento do seu país. Sem esquecer a posição geoestratégico no cruzamento dos vários continentes e a sua relação de parceria com outras regiões do globo, frisou: “O nosso futuro está no nosso continente, África”. O país assume, desta forma, uma visão positiva sobre o continente africano e sobre a sua capacidade para gerir o próprio destino.
É isso que Marrocos tem procurado fazer no que diz respeito aos grandes desafios que o país enfrenta e que, de alguma forma, são também os problemas com que o mundo se depara. Na apresentação que antecipou o almoço, o Embaixador de Marrocos abordou os três grandes desafios do país: a transição energética, a segurança alimentar aliada à escassez de água, bem como a segurança e a competitividade do Atlântico.
A resposta ao desafio energético
Em todas as frentes, as metas de Marrocos são ambiciosas, mas evidenciam desde já a capacidade do país de as pôr em prática. No âmbito energético, as fontes renováveis, como a energia solar e eólica, estão a ganhar terreno. As energias renováveis já representavam 40% do mix de energia nacional no final de 2023. E a ambição é de que a energia limpa alcance uma fatia de 52% em 2030 e 80% em 2050.
Esta ambição começa a dar frutos quando se olha para alguns rankings: Marrocos está no Top 10 dos países com melhor desempenho no combate ao aquecimento global e ocupa o primeiro lugar entre os países mais atrativos no que diz respeito à energia renovável.
A dianteira no setor energético, que pretende ser uma forte fonte de exportações, faz-se também pela aposta estratégica no hidrogénio verde, área onde o país está a fazer grandes investimentos.
A alimentação e a água
Outro grande desafio é, sem dúvida, a segurança alimentar, sobretudo num continente onde 282 milhões de pessoas são vítimas de desnutrição. Nesta área, o Embaixador de Marrocos destacou o facto de o seu país ter 70% das reservas mundiais de fosfato, uma componente essencial dos fertilizantes. E é nessa área que está a ser feita uma grande aposta. A empresa marroquina OCP, líder mundial na produção de fertilizantes de fosfato, ambiciona produzir 20 milhões de toneladas em 2027.
Para cumprir este desígnio, Marrocos está ciente de que precisa de combater um outro problema: o da escassez de água. O país ocupa a 27.º posição, entre 164 nações, no Índice Global de Escassez de Água. Por isso, implementou um programa que prevê grandes investimentos em infraestruturas, reutilização de águas residuais, dessalinização da água e transformação para uma agricultura mais sustentável.
O reforço da frente atlântica
Além de ultrapassar os desafios energéticos, alimentares e de escassez de água, Marrocos está a apostar no desenvolvimento da costa atlântica do país, destacou ainda o Embaixador Othmane Bahnini. “O desenvolvimento da costa atlântica de Marrocos é uma área de crescimento e de prosperidade”, afirmou.
Este plano passa pelo lançamento do maior porto desta costa – o West Africa Free Zone (WAFZ). Mais do que uma plataforma logística, pretende ser a porta de acesso dos países subsarianos ao Atlântico e criar uma área geoeconómica.
Trata-se de um projeto ambicioso que ajuda a construir a imagem, ainda desconhecida por muitos, de um país que se está a modernizar e assumir um papel de relevância económica e geoestratégica no norte atlântico de África. Para isso contribui o posicionamento que Marrocos tem assumido e que quer continuar a assumir: o de um país moderado, longe de zonas de maior tensão e aberto do ponto de vista político e religioso.
MARROCOS
- Fundado no ano 789, é um dos países mais antigos do mundo.
- Tem como sistema político uma monarquia parlamentar constitucional, em que o Rei é chefe de estado com um governo responsável perante o rei e o parlamento.
- O novo texto da Constituição de 2011 esclarece a relação entre os poderes e fortalece os papéis do Chefe de Governo.
- Reina a Dinastia Alauita desde 1659.
- A religião principal é o Islão.
- Tem duas línguas oficiais: o Árabe e o Berbere.