“As religiões do mundo têm um papel importante e crucial na paz.” A mensagem foi proferida pelo professor Mostafa Zekri num colóquio que discutiu o tema do diálogo inter-religioso. No entanto, poderia ser subscrita por todos os oradores que integraram os dois painéis deste colóquio, que decorreu no sábado, 19 de outubro, na Casa da Cultura Islâmica e Mediterrânica, em Silves, no Algarve.
Organizada pelo Observatório do Mundo Islâmico e pelo Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, o colóquio intitulado “O Diálogo Inter-religioso”, foi o mote para a partilha de perspetivas sobre a importância do diálogo inter-religioso para a integração e a paz social.
Esta ideia foi de imediato salientada pela presidente da Câmara de Silves, Rosa Palma, que deu início aos trabalhos, sublinhando a importância desta temática. “Promover estes diálogos, que são tão importantes nos tempos que correm, conduz-nos a refletir sobre quem somos.”
Na primeira intervenção, o professor Mostafa Zekri enquadrou o termo e o seu percurso histórico, destacando a crescente relevância do diálogo inter-religioso, que se torna mais evidente no contexto atual, marcado por conflitos e crises humanitárias. “É essencial promover o diálogo para termos sociedades pacíficas e inclusivas”, afirmou Zekri, chamando a atenção para o papel das religiões na construção da paz.
Num exercício importante de reflexão sobre os conceitos, o professor Zekri sublinhou também a diferença entre religião e espiritualidade, considerando esta última como uma busca pessoal pelo sagrado que pode unir as várias tradições religiosas e fomentar a paz. “As religiões do mundo têm um papel crucial na promoção da paz e do entendimento comum”, frisou.
A realidade portuguesa
Mais focado na presença da comunidade islâmica em Portugal, o Sheikh Zabir Edriss, presidente do Centro Cultural das Colinas do Cruzeiro, destacou o acolhimento histórico que a comunidade recebeu em Portugal, sobretudo no último quartel do século XX. Contudo, alertou para os desafios recentes, nomeadamente o preconceito e a discriminação. “Nunca me senti tão estrangeiro em Portugal”, lamentou, referindo-se à crescente hostilidade sentida quer após o 11 de setembro, quer ao impacto dos discursos de ódio legitimados por algumas correntes políticas de extrema-direita.
No entanto, afirma o Sheikh Zabir, isso não é motivo para desistir. Defendeu um trabalho de esclarecimento através da educação para a cidadania. “Temos de começar do zero, explicar o que é o Islão e as nossas tradições. Não podemos ceder ao medo. Temos de continuar a trabalhar.”
De uma perspetiva mais ampla, no segundo painel, o Embaixador Ibrahim Salam, chefe da Secção dos Tratados de Direitos Humanos do Gabinete do Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, abordou a experiência da ONU no fomento do diálogo inter-religioso. Destacou a importância de uma gestão equilibrada entre direitos, religião e cultura e sublinhou o papel da tolerância e dos valores religiosos na promoção da paz.
Mohammed Ibrahim, comentador do programa “E Deus Criou o Mundo”, partilhou a sua perspetiva sobre o processo de conversão ao Islão e a importância de um acompanhamento próximo dos convertidos pela comunidade, alertando para os perigos do radicalismo promovido em redes sociais.
O evento concluiu com uma mensagem clara: o diálogo inter-religioso é fundamental para a integração da comunidade islâmica e para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Como sublinhou João Henriques, vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico, “é necessário ouvir a outra parte, informar, explicar e aprender, para evitarmos os conflitos e promovermos uma verdadeira coexistência pacífica”.