Atualizado: 26 de set.
Escrever sobre os constantes conflitos entre Israel e Palestina requer profundo conhecimento histórico e extrema cautela para não induzir o leitor para um dos lados da fronteira de Gaza. Os eternos embates bélicos são frequentes nas regiões de Jerusalém Oriental, Gaza e Cisjordânia e o retorno de Benjamin Netanyahu ao governo israelense representa uma ameaça existencial ao povo palestino e para a continuidade dos conflitos.
O novo governo, liderado por Netanyahu, representa a política mais à direita e conservadora nestes 74 anos de existência do Estado de Israel e, mais ainda, seguem linhas de pensamentos de extremismos ideológicos. Em poucas palavras, os novos governantes ultranacionalistas acreditam numa espécie de supremacia judaica e deverão impor diretrizes anexionistas e de linha-dura contra os palestinos.
No fim de 2022, durante a 77° Assembleia Geral das Nações Unidas, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, pediu um boicote mundial ao novo governo de Israel por considerá-lo, segundo suas palavras, extremamente racista e incitadores de políticas de limpeza étnica. Logicamente, nenhum boicote irá acontecer.
Diálogos entre líderes palestinos e de Israel sempre foram ásperos. No passado recente, precisamente nos anos 1990, conversações amistosas ocorreram no período em que Yasser Arafat esteve à frente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e Yitzhak Rabin era o primeiro-ministro de Israel. Naquele momento, estava em discussão um acordo que conduziria a Cisjordânia e a faixa de Gaza para as mãos palestinas.
E, hoje, em 2023 vivenciamos os mesmos problemas. O governo israelense propõe aumentar os assentamentos na Cisjordânia, onde os palestinos esperavam construir um futuro Estado.
Sem entrarmos na discussão de quem possui a razão quanto aos assentamentos israelenses na Cisjordânia, o que se observa é que quanto maior o radicalismo e falta de diálogo do governo de Israel ainda maior será a resposta palestina. Resposta esta que alguns analistas consideram terrorismo.
Está muito claro ao mundo que dificilmente existirá um Estado Palestino reconhecido pela ONU. Os grandes líderes mundiais, principalmente norte-americanos, que intervieram na questão palestina ao longo de nossa história recente sempre tiveram a percepção de que o objetivo de Israel sempre foi impedir a existência de um Estado palestino. Desta forma, o que está em jogo é a abertura de diálogos que promovam o arrefecimento das tensões na região.
Infelizmente, o novo governo é constituído por políticos abertamente antiárabes e, pior, com membros do partido judaico ultraortodoxo Shas. O Shas é um partido populista de direita com pensamentos ideológicos que confrontam um sistema social de convivência entre tribos religiosas diversas. Ao fundir nacionalismo judaico, populismo e religião este partido ganhou influência na política israelense e serviu de base para sustentar o governo de Netanyahu. Além disso, ministros que compõem o gabinete do novo governo também estão alinhados com esse extremismo. Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança e líder do partido Poder Judaico, já deixou sua marca no governo. Iniciou uma perseguição discriminatória aos judeus anti-governo.
É hora de admitir que o conflito Israel-Palestina se tornou comum na vida daqueles cidadãos. Se a diplomacia internacional está exausta de tanto tentar, o que fazer? E, pior, se as hostilidades aumentam conforme mudanças de governo, o que fazer?
Um exemplo disso veio do próprio governo norte-americano. Durante seu período de governo, Donald Trump deixou claro seu apoio incondicional com a anexação israelense da Cisjordânia e com assentamentos na região. Um posicionamento que deixava ainda mais a vontade Benjamin Netanyahu. Porém, a nova administração de Joe Biden não chancela o posicionamento do governo anterior. E vislumbra com a existência de dois Estados.
É impensável acreditar em avanços nesta direção num curto prazo. O radicalismo existente hoje atingiu níveis altíssimos. Importante que a diplomacia internacional não coloque ainda mais combustível nesta refinaria em chamas. E, sim garantir que nenhuma das partes torne o processo ainda mais complicado.
No curto prazo, a diplomacia internacional não diminuirá divisões profundas em meio ao novo governo israelense e raivosos líderes palestinos. Porém, o que está em jogo não é somente a crise local, mais sim, o aumento das tensões além das fronteiras. E, que não alcance as fronteiras do Irã.
Referências
Sharon, Jeremy. (2021). “Shas spiritual leader: Boycott Israel’s government.” The Jerusalem Post. Junho, 2021. https://www.jpost.com/israel-news/politics-and-diplomacy/shas-spiritual-leader-boycott-israels-government-671084(acessado em 01 de janeiro de 2023).
*Luis Augusto Medeiros Rutledge é engenheiro de petróleo e analista de Geopolítica Energética. Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal e Membro do CERES – Centro de Estudos das Relações Internacionais. É MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pós-graduando em Relações Internacionais pelo Ibmec. Atua como colunista e comentarista de geopolítica energética do site Mente Mundo Relações Internacionais. Colaborador de colunas de petróleo, gás e energia em diversos sites da área. Contato: rutledge@eq.ufrj.br
Artigo publicado na revista do Centro de Estudos das Relações Internacionais (CERES), no dia 3 de Fevereiro de 2023, e actualizado a 26 de Setembro de 2023.